Tiago Simão da Silva

Posto: Bombeiro de 2ª Classe

Data de Nascimento: 17 de agosto de 1982

Profissão: Estudante

Motivação:

Não, não sou o único / Não sou o único a olhar o céu (Xutos & Pontapés)

Tiago Silva ingressou nos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo em 1997 (oficialmente, a sua admissão na Escola de Cadetes foi formalizada em 1998). Tinha 15 anos. Alguns anos antes, tinha visto o filme «Mar de Chamas» (1991, realização de Ron Howard) e a sua vida nunca mais foi a mesma. No filme, os atores Kurt Russell, William Baldwin e Robert De Niro personificam os heróis que combatem o inferno das chamas. Tiago sonhou ser um desses heróis na vida real.

Um dos seus colegas lembra-se bem – teriam uns dez ou onze anos – de uma vez terem faltado à escola para fazer uma visita ao quartel de bombeiros. Quando, juntos, quiseram entrar para a Escola de Cadetes – recorda – «o principal problema do Tiago era o cabelo, visto ele ter o cabelo grande a bater pelos ombros, mas esse problema foi resolvido de imediato no barbeiro».

Hoje, a sua “imagem de marca” é dominada por dois acessórios que nada têm em comum: o primeiro, distingue o jovem sensível, rebelde e inconformado; o segundo, simboliza o “mito” do verdadeiro operacional.

Imagem de marca I: O leitor de CD portátil

A música é uma companhia indispensável e Tiago gosta de a partilhar com os outros, apesar de o leitor de CD portátil, que nunca larga quando não está de serviço, acabar por ser uma forma de evasão. Nos seus auscultadores, passam, sobretudo, sons dos anos 60, 70 e 80. Orgulha-se de ter os discos todos dos Xutos e colabora regularmente na organização de feiras de discos.

Imagem de marca II: Um capacete que «é um mito»

Como operacional, não descura o mínimo pormenor do seu equipamento, seja no combate ao fogo, numa ação de desencarceramento ou num salvamento em grande ângulo. Na busca incessante dos equipamentos que satisfazem os seus sonhos, é frequente mandá-los vir do estrangeiro. «O meu equipamento não é igual ao de nenhum dos meus colegas, o capacete nem sequer está regulamentado em Portugal», diz. E não nega que ter um capacete novaiorquino – que fascinou até o Comandante da corporação – também pode ser entendido como uma certa atitude provocatória. O capacete em causa não é o da fotografia, embora esse também tenha o seu quê de cinematográfico, no melhor estilo Darth Vader, a mais emblemática personagem d’ «A Guerra das Estrelas» (George Lucas, 1977).

Explica Tiago Silva, sobre o modelo de capacete usado nos departamentos de fogo de Nova Iorque/ Chicago: «É um mito. Ganhou fama com o filme “Mar de Chamas”. Com a tragédia do 11 de setembro, o mito renasceu e, então, tive mesmo de gastar 70 contos no capacete». O capacete é preto com faixas amarelas e tem à frente uma fénix trabalhada em metal e uma viseira especial, com recorte para o nariz.

«Para o ano, se calhar, já tenho um equipamento novaiorquino completo», promete o bombeiro, explicando que isso implica ter um casaco com um recorte por baixo do aparelho respiratório, com o seu nome. «Se o bombeiro estiver equipado com o aparelho respiratório, vê-se o seu nome por baixo. E isso é importante por uma questão de identificação nos fogos», explica.

Tiago Silva não esconde o fascínio pelo modelo americano de organização dos bombeiros. E «admiro muito a consideração que a população norte-americana tem pelos bombeiros», afirma. Esta referência permanente é capaz de justificar boa parte da tensão inter-geracional que, de vez em quando, se sente na corporação, mas acaba por explicar quase toda a motivação do bombeiro.

No Corpo de Bombeiros

Como os equipamentos, só por si, não fazem o bombeiro, Tiago Silva não tem desprezado a sua formação profissional. Em 1999, ainda cadete, frequentou um primeiro curso de Tripulante de Ambulância de Transporte (TAT). Em 2000, concluiu (com 17,6 valores) o curso de promoção a bombeiro de 3ª classe. Em 2001, frequentou na Lousã (Escola Nacional de Bombeiros) o curso de Chefes de GPI (Grupos de Primeira Intervenção no combate aos incêndios florestais); no mesmo ano, concluiu o curso de Salvamento e Desencarceramento.

Em 2002, voltou a frequentar um curso de TAT e, no ano seguinte, foi o primeiro classificado (14,07 valores) do curso de promoção a bombeiro de 2ª classe, organizado pela Federação de Bombeiros do Distrito de Setúbal. Em 2003, concluiu também o curso de Operador de Central da ENB e, após concurso, foi promovido ao posto de bombeiro de 2ª classe.

Entre novembro e dezembro do ano passado, Tiago Silva frequentou o curso de Salvamento em Grande Ângulo, realizado nos corpos de bombeiros do Pinhal Novo e Montijo (ver Fotos), com a duração de 70 horas. Em 1 de maio de 2005, nas cerimónias comemorativas do 54º aniversário da Associação, foi condecorado com a medalha da Liga dos Bombeiros Portugueses que assinala 5 anos de serviço (Grau Cobre – Ver Foto).

A maior parte da vida do Tiago é passada no quartel de bombeiros, onde a sua intervenção abrange as diversas áreas operacionais. No seu processo, estão transcritos reconhecimentos pela atuação num incêndio rural na Serra do Caramulo e num incêndio urbano na Avenida Luísa Todi, em Setúbal (ambos em 2001), bem como um louvor (2002) pela integração do Grupo Rápido de Reforço (GRR) do combate a incêndios florestais. No Verão quente de 2003, o bombeiro integrou o Grupo de Primeira Intervenção (GPI) nos grandes fogos de Vila de Rei, Castelo Branco, Oleiros e Sertã.

Sintoma de uma certa rivalidade em relação a Palmela, Tiago nunca mais se esqueceu da “humilhação” que sentiu – e ri-se, ao contar o episódio – quando, num fogo local, ele e os colegas ficaram atascados no caminho e se viram ultrapassados por uma viatura de Palmela, também chamada para a ocorrência.

Agora a sério: a situação que mais o marcou é bastante recente. Na madrugada de 12 de fevereiro deste ano, na Estrada Nacional 252, um choque entre duas viaturas fez seis vítimas mortais (ler notícia). Tiago Silva foi operador de ferramenta, na equipa de salvamento e desencarceramento, e registou, com a câmara incorporada num telemóvel, o cenário de destruição. Sobre essa experiência, considera que já falou o suficiente com a equipa de psicólogos chamada ao quartel, para dar apoio aos bombeiros. Os heróis do cinema são de carne e osso, na vida real.

O que dizem dele…

Pensas que eu sou um caso isolado / Não sou o único a olhar o céu
A ver os sonhos partirem / À espera que algo aconteça
A despejar a minha raiva / A viver as emoções
A desejar o que não tive / Agarrado às tentações

Pensas que eu sou um caso isolado / Não sou o único a olhar o céu
A ouvir os conselhos dos outros / E sempre a cair nos buracos
A desejar o que não tive / Agarrado ao que não tenho
Não, não sou o único
Não sou o único a olhar o céu
E quando as nuvens partirem / O céu azul ficará
E quando as trevas abrirem / Vais ver, o sol brilhará
Vais ver, o sol brilhará

in «Circo de Feras», 1987 [Música de Xutos & Pontapés; Letra de Zé Pedro, consultada no álbum em vinil gentilmente cedido por Vítor Pardal Simões, outro grande fã dos Xutos]

20.05.2005

Autor: Helena Rodrigues (Texto); Flávio Andrade (Fotos)

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