Manuela Maria Oliveira Rodrigues

Posto: Chefe

Data de Nascimento: 19 de junho de 1965

Profissão: Desempregada

A “CHEFE MANUELA BOMBEIROS DE PINHAL NOVO

Em género conversa entre amigos de longa data, a meio da tarde do passado dia 15 fevereiro de 2022, surgiu a possibilidade de nos reencontrarmos para tecer algumas considerações, sobre a sua dedicação desde jovem até à atualidade, nas funções de bombeira ao serviço da Associação Humanitária dos Bombeiros de Pinhal Novo, onde se alistou com 14 anos, como Auxiliar Feminina no dia do seu aniversário a 19 de junho de 1979, com a devida autorização dos seus pais, que por força das circunstâncias, posteriormente se inscrevem também para  pertencerem ao Corpo de Bombeiros, onde permaneceram em funções, até atingirem o limite de idade e transitarem ambos para o quadro de honra, por terem desempenhado as suas funções nesta nobre causa, com assiduidade e zelo.

Ao completar a idade de adolescência no dia 19 de junho de 1983, passa automaticamente à categoria de Aspirante, onde permanece cerca de três anos participando na fanfarra e nos serviços auxiliares, passado  este período inscreve-se para frequentar o curso interno para ingressar na carreira de bombeira e no ano de 1986, conclui-o com sucesso sendo promovida em cerimónia de ato público, com a imposição das respetivas divisas de Bombeira de 3ª Classe e prestando juramento junto do Estandarte da Corporação, afirmando cumprir as funções que lhe foram confiadas como bombeira, ao serviço do seu semelhante e da nação.

Contudo a força da idade, o entusiasmo, o querer e a paixão pela arte de exercer o voluntariado, volta a incrementar o grande entusiasmo e no ano seguinte (1987), volta a inscrever-se em novo curso, para as vagas existentes ao posto de Bombeira de 2ª classe, tendo reunido a aptidão necessária para ascensão ao posto.

Decorria o início do primeiro trimestre do ano de 1998, frequenta o curso de formação para ascensão ao posto de 1ª classe, tendo concluído e assumindo novas funções no corpo ativo.

No ano 2000, pensa concorrer ao escalão de chefias, tendo frequentado o curso de formação e prestado provas que volta a concluir com êxito e ocupando o posto de subchefe.

Dezasseis anos depois da entrada nas fileiras a subchefe Manuela Rodrigues, concorre ao posto de Chefe e fica aprovada, atingido o topo máximo da hierarquia da carreira como bombeiro no quadro ativo, que lhe permitiu pela celebração das comemorações do 49º aniversário, serem-lhe atribuídas as respetivas divisas e passando a liderar uma secção de bombeiras/o constituída por vinte e dois subalternos e onde permanece na atualidade no posto.

Em todo este percurso recebeu várias distinções honoríficas, e frequentou cursos que lhe permitiram em paralelo aumentar os seus conhecimentos na área do socorro e segurança.

Depois deste curto diálogo, fiquei com a sensação que muito mais ficou por falar, como de excursões, acampamentos, convívios e amizades, nesta grande família que são os soldados da paz.

Não na qualidade de entrevistador, mas sim como eis Comandante, da chefe Manuela Rodrigues, só tenho uma palavra parabéns pela entrega à causa que abraçaste, mesmo ultrapassando muitas vezes sérias complicações para o exercício das tuas funções. reitero os meus parabéns.   

Manuela, apresenta-te?

O meu nome é Manuela Maria Oliveira Rodrigues, nasci a 19 de junho de 1965, tenho 56 anos de idade, exercia as funções de operadora de comunicações no Centro Coordenador de Operações em Palmela, mas com as remodelações estratégicas, verificadas pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil no ano transato, fiquei no desemprego. Sou divorciada e tenho um filho, que se chama Ricardo Miguel Paratudo da Cruz e tem 17 anos de idade.

Como surgiu a ideia de quereres ser bombeira? E que idade tinhas quando ingressaste no corpo de bombeiros?

Nada fazia supor, que eu um dia entrasse para este Corpo de Bombeiros, servindo o voluntariado e viesse a fazer parte desta grande família, com o objetivo para auxiliar os mais desprotegidos nos momentos mais difíceis da sua vida.

Mas voltando à pergunta inicial, um belo dia fui com o meu pai assistir à inauguração do novo quartel e às comemorações do 38º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, e ao ver tanto público, veículos e os bombeiros com a farda de gala, mexeu comigo a ideia de também vir um dia a participar neste grande grupo e não hesitei em pedir aos meus pais para me inscreverem.

Eles efetivamente não se opuseram à minha ideia, mas também me colocaram logo como contrapartida, que teria que passar o ano, para que o meu sonho se realizasse. E foi com todo este entusiasmo que me dediquei mais aos meus estudos, para ultrapassar as dificuldades existentes na escola e acabei finalizando o ano com sucesso. E foi no dia 17 de junho de 1979 (sábado), que o meu pai me levou ao quartel para me inscrever, mas como ainda não tinha concluído os 14 anos de idade, por faltarem dois dias o meu pai assinou a inscrição com a data do meu aniversário de 19 de junho de 1979, onde entrei como auxiliar do corpo feminino.    

Gostavas que o teu filho também fosse bombeiro?

Não tenho qualquer dúvida que gostava que ele participasse no corpo de bombeiros, até porque isto até parece que está na génese da família, é o caso dos meus pais que ainda pertencem ao quadro de honra, assim como os meus tios, irmãos da minha avó materna, que também foram bombeiros. Contudo vejo que o Ricardo não gosta, nem acha bem que eu esteja nos bombeiros, ele compreende a nossa missão, mas não se sente vocacionado em querer participar.

Vou ficar com imensa pena, mas estou convicta que ele nunca virá a participar como bombeiro.        

Já alguma vez sentiste vontade para abandonar a causa?

Não, nunca senti, mas existem alturas em que não estou muito animada, não tem a ver com o serviço do voluntariado, mas sim com problemas da minha própria vida e a única solução que arranjo não é abandonar é retirar-me e comparecer só para cumprir os meus serviços obrigatórios e quando essas crises ou fases menos boas passam, volto às atividades que muito gosto. E se tudo correr bem, penso permanecer até aos meus 65 anos, que é a data limite para estar no ativo ao serviço do voluntariado.           

Consideras que se eventualmente estivesses alistada noutra corporação, terias melhor sucesso na tua carreira?

Para já nunca pensei, alguma vez alistar-me noutra corporação, só porque existe algum problema ou por não gostar de alguma situação. Penso que nós devemos participar nos corpos de bombeiros das localidades onde residimos, por três grandes razões que considero muito importantes no cumprimento do dever. Primeiro se estiver na localidade onde resido, posso a qualquer momento ser solicitada para uma ocorrência e num curto espaço de tempo prestar o meu melhor auxílio, o que em contrapartida fora da minha área não posso fazer. A segunda questão que também considero importante é o facto de não perder tempo nas deslocações para o cumprimento dos meus serviços e terceira e última questão não menos importante é o fator financeiro anualmente que gastaria nas minhas deslocações, para o cumprimento dos serviços obrigatórios fora da localidade, razões que considero essenciais para a minha vida e não vejo vantagens ao alistar-me noutra corporação de bombeiros, só por ter este ou aquele problema pessoal, que considero que existem sempre em qualquer outro lado, casas de muita gente é sempre suscetível existirem problemas no dia a dia.

Além do mais, foi aqui que me alistei e tenho feito todo o meu percurso, que muito gosto e sonhava e que consegui concretizar.

Em termos de hierarquia chegaste ao topo da carreira como bombeira. A minha pergunta é a seguinte, que responsabilidades acrescidas sentes ao chefiar uma secção sob a tua responsabilidade?

Ao coordenar um grupo de bombeiros tenho mais responsabilidades acrescidas, como é natural, no entanto eu gosto de chefiar, mas em trabalho de equipa, ou seja, auscultar a opinião do grupo e partilhar com eles a melhor solução para resolver determinados assuntos, ou num confronto de ideias com outro colega ir sempre ao encontro da melhor resolução do problema.

Reconheço que nunca é fácil chefiar uma secção, mas tudo farei para manter vivo o espírito de grupo enquanto líder.

Quando for solicitada para entrar em algum teatro de operações, sinto-me perfeitamente à-vontade para trabalhar com os meus superiores sem problemas, assim como com os meus colegas sempre que assuma as funções, de mais graduada da ocorrência.       

No teu dia a dia, que mensagens transmites aos teus subordinados, para lhe incutires a nobre causa do serviço de querer ser bombeiro?

Faço por estar sempre presente no quartel no cumprimento das minhas obrigações, para manter o exemplo aos meus subordinados, pois entendo que se não der o exemplo, não posso exigir a eles o cumprimento do dever.

Transmito-lhes frequentemente que todos nós temos uma missão muito importante a desempenhar quer no serviço, quer como cidadão, dando o exemplo de sermos pessoas ponderadas, respeitadoras e temos que saber ultrapassar sempre os obstáculos que nos surjam no dia a dia, porque isso é ao fim ao cabo a razão da nossa permanência em alerta constante. E nunca podemos desistir de enfrentar as grandes dificuldades, com os meios que nos são facultados para socorrer as pessoas, animais e afins.

E também tento transmitir-lhes que ao sermos solicitados para prestar o nosso apoio quer nas áreas de incêndio, acidente, catástrofes, doenças súbitas ou outras, é porque as pessoas que se socorrem de nós, são incapazes por si próprias de resolver os seus graves problemas, que os afronta no momento.          

Como consideras o quartel a nível de infraestruturas básicas, para a um bom funcionamento operacional?

Tendo eu entrado neste quartel na altura da sua edificação, em que poderíamos dizer existir as condições suficientes no momento, embora fosse pequeno, reconheço que isso nos dias de hoje seria insuficiente para o crescimento da área urbana e industrial existente, mas graças às duas grandes ampliações e remodelações do quartel, uma a poente e outra no topo norte, penso estarem reunidas as condições necessárias a nível das infraestruturas para uma boa funcionalidade operacional.   

Caso pudesses opinar um melhoramento, qual seria a tua opinião?

Não sugeria um melhoramento, mas sim três situações que considero essenciais no momento atual. A primeira seria uma casa de banho funcional, nos nossos vestiários. A segunda era água quente nos duches da nossa camarata. E a terceira que considero mais importante, era uma janela para o exterior nos vestiários femininos para arejamento, atendendo que os motores das viaturas pesadas, no parque de incêndios provocam muitos gases naquele espaço interior.   

Em termos de equipamentos e viaturas, como consideras todo o material existente?

Falando de viaturas seria bom a substituição da viatura de desencarceramento, por ser uma viatura antiga e já não satisfazer com a brevidade desejada no socorro e se fosse possível a aquisição de outra viatura florestal para ficarmos com melhor poder de resposta, sempre que temos que disponibilizar os nossos meios para fora de área em apoio nos grandes incêndios.

Nos equipamentos as coisas já não se apresentam tão complicadas, mas seria importante quando fosse possível financeiramente a substituição de alguns, por outros com uma melhor autonomia e mais leves no seu manuseamento.   

Como explicas a razão dos teus pais também participarem nesta nobre causa?

Quando entrei para os bombeiros os meus pais, não estavam integrados no Corpo de Bombeiros. O meu pai veio a participar mais tarde nos órgãos sociais que constituíam a Direção e a minha mãe na comissão de festas da Associação.

Mas verificaram que poderiam ser mais úteis à sociedade estando alistados no Corpo de Bombeiros do que como pessoas civis, onde se encontravam muito limitados na colaboração e foi neste sentido que se inscreveram e participaram até ao limite de idade.

O meu pai exercia a sua colaboração, como motorista e a minha mãe fazia serviço de operadora de central de comunicações e ainda chegou a fazer serviços como tripulante de ambulância de transporte de doentes. Criaram muitas amizades de tal forma que me encontro frequentemente com muitas pessoas, que ao me cumprimentarem perguntam sempre com vai o senhor João Paratudo e a dona Manuela.     

Qual foi a formação adquirida na área dos bombeiros?

Tens algum episódio que consideres marcante, enquanto ao serviço dos bombeiros?

Sim, não lhe chamo propriamente um episódio, mas uma situação, que me marcou e assustou-me sinceramente, ou seja, quando integrei uma coluna de socorro no distrito de Setúbal, para o combate a um grande incêndio que deflagrava a alguns dias na localidade de Oleiros, no distrito de Castelo Branco. E qual não foi a minha apreensão de terror quando íamos a muitos quilómetros de distância na auto estrada de acesso à zona do incêndio e começámos a visualizar uma situação impressionante e inexplicável mesmo, ao verificar na escuridão da noite no horizonte, um enorme vermelhão no astro e grandes lavaredas, de tal forma que se apoderou de mim um enorme receio e desilusão, em que várias vezes pensei se à distancia a dimensão do fogo era enorme, como seria na realidade no local, ao ter que enfrentar todo aquele cenário de pavor arrepiante. Mas felizmente com o apoio de novas técnicas e com a colaboração de outras colunas de bombeiros oriundas de outros pontos do país e os meios aéreos, conseguiu-se extinguir o incêndio.

E qual a situação que mais dificuldade sentes enquanto bombeira?

Na realidade não tenho muitas dificuldades em determinadas situações quer na área do socorro, assim como no serviço interno do dia a dia. No entanto existe na prática em relação aos exercícios correntes as manobras com escadas de ganchos, com escalada aos pisos superiores que me provoca maiores dificuldades até ao dia de hoje.

Mas como nos dias de hoje, estas práticas já podem ser superadas com viaturas com plataformas elevatórias de rápido acesso, penso não me reformar, sem ter o prazer de um dia a nossa corporação ter um veículo destes e as dificuldades ficam ultrapassadas.     

Posteriormente a esta entrevista a Chefe Manuela Rodrigues foi homenageada, no decorrer das comemorações do Dia Nacional do Bombeiro, no passado dia 29 de maio de 2022, como sendo a mulher mais antiga do distrito de Setúbal (Ler Notícia).

Fonte: Fernando Rita Pestana, Secretário da MGA da AHBPN

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